Agronegócios
Brasil, maior exportador de soja do mundo, quer importar esse grão | Brasilagro
GRAO SOJA EMBRAPA DIVULGACAO
Confira a análise do norte-americano Sal Gilbertie sobre o cenário para o grão, trader de commodities que atua no mercado há cerca de três décadas a partir de Nova York.
Legenda: O Brasil, maior produtor e exportador de soja do mundo, dispensou impostos na tentativa de conter a inflação doméstica de alimentos. Foto Embrapa/Divulgação
Existem apenasquatro paísesque realmente importam no mundo dos exportadores de soja: Brasil, Estados Unidos, Argentina e Paraguai. O Brasil exporta quase 54% de toda a soja exportada desses quatro países, e eles basicamente ficaram sem feijão para vender.
OBrasil é o maior produtor e exportador mundial de soja, mas o uso doméstico crescente e as vendas recordes para a China esgotaram os suprimentos. O governo anunciou a suspensão das tarifas de importação em uma tentativa de encorajar as importações e suprimir a inflação alimentar doméstica galopante.
Esta é uma notícia realmente de peso no mundo dos grãos e pode, em breve, ser uma grande notícia para todos no planeta, casoo preço da soja fora do Brasilvenha a imitar o preço da soja doméstica brasileira, ao que o USDA afirma serem níveis de preços recordes.
Grande parte do problema foi auto-infligido: analistas privados estimam queo Brasil vendeu soja em demasiapara exportação, e o país tem regras rígidas quanto à origem e aos tipos de soja permitidos à importação. Antes da retirada das tarifas de importação [que permanecem zeradas até o final de 2021], os únicos países dos quais o Brasil podia importar soja sem penalidade tarifária eram os outros membros do acordo comercial regional do Mercosul.[Nota Forbes Agro: o Brasil importou 195 mil toneladas em 2019, por US$ 78 milhões; em 2020 foram 1 milhão/ton por US$ 438 milhões e, neste ano, de janeiro a outubro foram 882 mil/ton por US$ 455 milhões. O Brasil só importou volumes nessa quantidade no final dos anos 1990 e início dos anos 2000. Vale registrar que em 1990 o país já era o segundo maior produtor de soja do mundo, com 26 milhões de toneladas cultivadas em 12 milhões de hectares. A Conab estima, para a safra 2021/22, o cultivo de soja em 39,9 milhões de hectares.]
Os EUA são o segundo maior exportador de soja do mundo, e o único grande exportador de soja fora do pacto do Mercosul, o que significa que a remoção dos direitos de importação deve permitir importações dos EUA. Mas o Brasil não pode importar a maioria da soja geneticamente modificada, o que significa que não poderecorrer facilmente aos EUApara atender às suas necessidades de importação de soja. Então, o Brasil se encontra em um beco quando se trata de fontes de importação de soja.
Isso está levando a mais escassez de soja no Brasil do que se poderia esperar, embora osestoques finais globaisde soja estejam acima de sua média de dez anos, com a produção global projetada para ser recorde neste ano-safra. Porém, mesmo com altos níveis de produção, o uso global está ultrapassando a oferta. O que significa que os estoques globais de soja devem cair na temporada de cultivo de 2020/21, marcando o terceiro ano consecutivo de queda nos estoques globais da oleaginosa.
A China desempenhou um grande papel no enigma da soja, e o que ela fará a seguir provavelmente determinará o preço global do grão em um futuro próximo. A maior parte das exportações dessa cultura no Brasil estãocomprometidas com a China. Agora que o Brasil, de fato, superou sua capacidade, a China deve recorrer aos Estados Unidos, Argentina e Paraguai para suas necessidades de importação restantes. Em uma ironia agrícola bizarra, a China estará competindo com seu principal fornecedor de soja por, vejam só, soja. Esta é uma reviravolta incomum que beneficiará diretamente os agricultores dos EUA.
O USDA projeta que a China precisará importar um recorde de 100 milhões de toneladas de soja este ano. Nos últimos meses, o país asiático está em um ritmo recorde de compras de soja dos Estados Unidos para a safra 2020/21. Não é de admirar que os preços da soja nos EUA tenham subido mais de 20% desde agosto.Vale ficar de olhopara o resto do ano-safra, que começou em 1º de setembro e vai até 31 de agosto do ano que vem. Deve ser um período interessante (Sal Gilbertieé presidente da Teucrium Trading, com sede em Nova York, com experiência de mais de três décadas no mercado de commodities agrícolas e energia (incluindo bioenergia). É colaborador da Forbes EUA;Forbes, 17/11/21)