Agronegócios
Após a bonança, conta de parte dos produtores não vai fechar neste ano | Brasilagro
A agricultura vai viver realidades bem distintas neste ano. Em algumasregiões afetadas pela seca, a conta do produtor não vai fechar.
Já o agricultor que produzir bem, como se espera em boa parte do Centro-Oeste, será beneficiado pelamanutenção dos preços das commodities. Demanda externa e câmbio elevado mantêm os preços em alta.
A avaliação é de André Pessôa, presidente da Agroconsult, consultoria que mostrou, nesta quinta-feira (13), o estrago que a falta de chuva vai provocar na região Sul e em parte de Mato Grosso do Sul. Essa queda de produção ocorre em um momento em que os produtores tiveram osmaiores custos de produçãodos últimos anos
Dificuldades no fornecimento de insumos, como adubo e agroquímicos, elevaram os preços externos e internos desses produtos, pesando no bolso dos produtores.
Mas não serão só os agricultores que terão um cenário de dificuldades. A seca afeta tambémArgentinaeParaguai, fornecedores de milho e de soja para o Brasil, principalmente para os estados do Sul, os mais afetados pelo clima.
A região Sul é onde se concentra boa parte da produção de proteínas, e as empresas terão de arcar com custos maiores na aquisição de matérias-primas, o que já havia ocorrido em 2021.
Essa conta chegará também ao bolso do consumidor, uma vez que a seca afeta arroz, feijão, milho, soja, hortaliças e frutas. Em algumas regiões, não é a seca que está reduzindo a safra, mas o excesso de chuvas.
André Debastiani, coordenador do Rally da Safra, evento que ocorre todo ano para uma avaliação das condições das lavouras e do potencial de produção de soja e de milho no país, diz que, em algumas regiões, o estrago é irreversível.
Há esperanças, no entanto, de uma melhora na produtividade em estados importantes, como o deMato Grosso, líder nacional em produção. O início da colheita aponta para bons resultados, segundo Debastiani. Se o Sul perde produtividade devido à seca, estados do Sudeste e do cerrado podem ter a qualidade da soja comprometida devido ao excesso de chuva.
O tempo nublado e a falta de luminosidade retardam o desenvolvimento das lavouras. Além disso, reduz o peso dos grãos.
Enquanto o Sul aguarda novas chuvas para o plantio e o desenvolvimento das lavouras, o Centro-Oeste torce para que elas não ocorram, uma vez que já foi iniciada a colheita de soja.
Os números da Agroconsult indicam uma safra de 134,2 milhões de toneladas, 10 milhões a menos do que a consultoria projetava em setembro. Apesar do aumento de 5,4% na área plantada, a safra deste ano ficará abaixo dos 137,1 milhões de 2020/21.
As lavouras de milho do Sul são ainda mais afetadas do que as de soja pela falta de chuva. A produtividade do cereal noRio Grande do Suldeverá recuar 53%; a doParaná, 15%; e a deSanta Catarina, 26%, segundo a consultoria.
A Agroconsult está mais comedida do que outras consultorias nas estimativas de quebra da safra de milho. Ela espera uma produção de 24,5 milhões de toneladas na primeira safra e de 94,8 milhões na safrinha.
A colheita menor de milho na primeira safra reduz a oferta do cereal no primeiro semestre. A safrinha, porém, poderá ser antecipada em um mês, uma vez que a seca permite uma colheita da soja mais cedo. Com isso, o o plantio do milho poderá ocorrer antes (Folha de S.Paulo, 14/1/22)