Tem alguma coisa? - Carlos Marinho

| DO AUTOR


Carlos Marinho. Foto: Arquivo

Tenho sim...
Tenho muita coisa a dizer...
E pouco a pouco eu vou me desprendendo, aliviando a alma e derramando aos pouquinhos a inspiração que brota dentro do peito e transborda pela boca, pelas mãos, pelos olhos e como uma represa rompida, deixo que essa enxurrada invada também o meu coração...
Mas para que isso aconteça, preciso fazer algumas reflexões até para que não faça julgamentos injustos, ou aponte erros, falhas ou equívocos onde não houve. Preciso ter a certeza que eu também não tenha errado e até, quem sabe, sido o culpado de tanta coisa quem vem me afligindo e apertando o coração e não raramente me fazendo chorar.
Então, começo a fazer uma viagem no tempo, analisando os pontos que lembro e que tiveram sua importância, tentando ser o mais racional possível na hora de observar cada um deles, lembrando dos fatos e situações, coisa que me traz muita saudade e são motivos de mais algumas lágrimas, umas de alegria e outras de dor.
Tenho sim...
Tenho muitas lembranças guardadas...
E estou organizando no livro da mente, colocando-as em compartimentos diferentes, selecionando. Uma caixinha guarda as ideias que ainda não se apagaram e quando remexidas provocam dor e lágrimas; mas as deixo em seu lugar porque sei que fazem parte da composição da minh’alma, integram a aprimoração do meu caráter, contribuem para a minha construção, enfim, elas compõem boa parte da minha história... da minha vida.
Tenho sim...
Tenho sonhos que sei se cumprirão...
Uns guardados a sete chaves; outros sem chaves ou tramelas... e alguns que nem portas possuem... têm passagem livre... Mas tenho uma certeza. Talvez nem todos se realizem, porém grande parte deles pode estar até, de certa forma, adormecida, mas com certeza se materializarão e se cumprirão, me devolvendo o sorriso verdadeiro que me foi tomado, ou sequestrado, e que ao voltarem suprirão todos os vazios que deixaram, preenchendo ao ponto de até transbordar, espumantes e efervescentes, como uma gelada champanha que ficou guardada esperando a hora de ser aberta, e então será saboreada, oferecendo seu inigualável sabor para enfeitar o sorriso que por tanto tempo esperou a liberdade.
Tem ainda mais que quer dizer?
Ninguém imagina o quanto eu quis que essa pergunta também me fosse feita. Com ela poderei respirar, desabafar, desconstruir, desafogar. Dizer até mesmo aquilo que já me prometera apagar, desdizer outras coisas que concluí que não deveria ter dito, alguma promessa que não poderei mais cumprir, abominar mentiras que tive de engolir, desamar...
Sim, porque a gente, às vezes, se joga no vazio, acredita no inacreditável, sonha acordado, se entrega, se doa, se dá... e de repente descobre que está numa estrada de mão única, daquelas que nada vem de encontro, que nada se torna afluente... e só você e em solidão. Lúgubre e sombria solidão... silenciosa...às vezes fria de nos fazer encolher, tiritar... outras quente de o suor escorrer pelo rosto... corpo... nos inundando...
Quantas promessas fiz pedindo que o Pai intervisse numa causa que acredito ser justa - e na verdade o é - mas Ele silenciosamente nos orienta a lutar, buscar os nossos objetivos, e nos ensina que apenas estará de lá do alto observando e nos protegendo de algum mal maior, mas nos observando e dando forças para prosseguir. Ele mostra que quer ver seu filho crescer e andar com suas próprias pernas. Mas ele nos deixa sempre sinais mostrando se estamos no caminho certo... se devo ou não prosseguir na caminhada. Mas é quase óbvio... Podemos tudo, menos parar, menos desistir, menos fraquejar.
Lutar por...correr atrás...buscar atingir o seu objetivo... faça isso...e chegará lá... terá a mais doce das vitórias que nem sequer consegue imaginar....

 

Carlos Marinho é jornalista e escritor

 

[email protected] 



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