Caminhos Nostálgicos - Davi Roballo

| DO AUTOR


O único caminho que um ser humano pode gabar-se de conhecer é o caminho da volta.
Sempre que por ele retorno os rios e a fontes me perguntam:
És tu aquele imaturo apressado que por aqui passou
Na verdura dos passos e fresca juventude?
És tu aquele que a sede saciou em nossas correntes e remansos?
Apenas sigo em frente levando na retina dos olhos
A sombra silenciosa de árvores que plantei à beira deste mesmo caminho.
Gigantes e frondosas se tornaram aquelas frágeis mudas, e eu prossigo diminuto como outrora, quando as plantei.
Neste mesmo caminho encontrei tanta coisa e agora no retorno noto que muitas perdi,
Entre elas a inocência.
Aqui e ali tropeço em velhos sonhos enferrujados e algumas lembranças refletidas em espelhos embaçados.
Chaminés que antes lenhas ardiam,
Agora exibem galhos de frondosas árvores que tomaram de volta seus acentos na natureza indiferente a memória dos humanos.
Pássaros pousam e levantam voos na segurança típica de um vagalume ante a luz do dia.
Percebo que se aproxima o verão, as abelhas anunciam o fim da primavera ao pousarem na última rosa.
Contemplando o fim desse ciclo,
Logo lembro, que quando por aqui passei pela primeira vez estava convencido de pertencer totalmente a mim mesmo,
Mas hoje, Terra, percebo que tudo aquilo que sou, é teu.
Somente os meus brancos cabelos me convenceram disso.
Avanço em direção ao horizonte e ouço o vento abrindo e fechando portas de uma casa abandonada,
Que rangem saudades dos que por elas passaram,
Casa com cheiro de alma, risadas infantis e latidos amigáveis de cachorros.
Assim como os rios e as fontes me perguntam, também pergunto a velha casa:
Quem são aqueles que te habitaram?
Por onde andam aqueles que por tuas portas cruzaram?
Quantos segredos tuas paredes guardam?
Meu coração pende com o peso nostálgico,
Então retorno aos caminhos desconhecidos...



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